24. O confronto

Para o Império, o cristianismo já não era uma seita de miseráveis que podiam ser jogados para as feras do circo. Era uma força real, que não podia ser ignorada.

Há mais de quinze anos que a Igreja vivia um período de paz. O último Antonino, Cômodo, tinha sido bastante indulgente com os seguidores de Jesus. Chegara a anistiar os cristãos condenados a trabalhos forçados. No início do reinado de Sétimo Severo tudo continuava tranqüilo. Certamente que aconteciam, uma vez ou outra, explosões de ódio contra a Igreja, mas não existia uma perseguição organizada, sistemática. Severo era clemente e se sentia propenso à respeitar as crenças orientais.

De uma hora para a outra, porém, as coisas mudaram. Talvez o imperador tenha detectado nos cristãos um perigo iminente, que punha em risco o futuro de seus domínios. Talvez tenha sido influenciado por alguém do seu círculo de amigos mais próximos que detestava os cristãos. O certo é que a tolerância rapidamente foi substituída pela repressão.

Entre os anos 200 e 202 sua deliberação foi promulgada: proibição total de conversões ao judaísmo e ao cristianismo, sob pena grave. Mas o cristianismo foi quem sofreu mais. Com a ordem do imperador, os funcionários do Estado não precisavam mais esperar denúncias, como determinado pelo Rescrito de Trajano. Um novo e terrível período de perseguições começava. Perseguições metódicas e direcionadas. Violência, abuso da autoridade policial, circos lotados com cristãos sendo lançados às feras. Uma nova era dos mártires.

Caracala (211-217, estendeu a cidadania romana para todos os habitantes do Império), Heliogábalo (218-222) e Severo Alexandre (222-235) reinaram sem incomodar muito. Alguns quiseram insinuar que Severo Alexandre era admirador de Jesus, bem como o imperador Filipe, o Árabe (244-249). Estas insinuações são provavelmente falsas. Mas é certo que já existiam funcionários imperiais cristãos.

Com Décio (249-251) a perseguição retorna. No ano 250 todos os moradores do Império que possuem cidadania romana são obrigados a manifestar sua adesão à religião imperial. Certificados seriam entregues aos que cumprissem a determinação, enquanto os contraventores correriam o risco de perder a própria vida. Há muitos mártires em Roma, na Ásia, no Egito e na África.

Valeriano (253-260), com dois editos, torna a legislação ainda mais rígida. Procurava perseguir especialmente os líderes das comunidades cristãs: bispos, padres, diáconos. Na África a Igreja sofre severas baixas. Com Galiano (260-268) há mais um período de paz. Aureliano (268-275) não dispõe de tempo para implantar no Império o seu sincretismo solar.

Após dez anos de anarquia, Diocleciano (284-305) toma o poder. Com seu gênio consegue recuperar durante algum tempo o brilho dos tempos gloriosos do Imperium. Suas reformas administrativas e religiosas foram uma das últimas tentativas de salvar Roma. Foi ele quem organizou e executou a mais terrível das perseguições contra a Igreja, principalmente no Oriente.

Em 286 colocou ao seu lado Maximiano, e dividiu com ele o império: Diocleciano com o Oriente e Maximiano com o Ocidente (diarquia). Em 293 foram instituídos mais dois imperadores, de categoria inferior, governando em diferentes regiões (tetrarquia). Diocleciano e Maximiano possuíam o título de Augustus, enquanto os outros dois (Galério e Constâncio Cloro) eram denominados de Césares.

Os Césares eram os herdeiros legítimos dos Augustos. Depois da criação da tetrarquia, o Império passa a ter quatro capitais: Tréveris, Milão, Sírmio e Nicomédia.



“O meu passado, Senhor, à Tua misericórdia. O meu Presente, ao Teu amor. O meu futuro, à Tua Providência.” São Padre Pio de Pietrelcina