14. Os apologistas

"De diversas formas, pois, os Padres do Oriente e do Ocidente entraram em relação com as escolas filosóficas. Isto não significa que tenham identificado o conteúdo da sua mensagem com os sistemas a que faziam referência. A pergunta de Tertuliano: ‘Que têm em comum Atenas e Jerusalém? Ou, a Academia e a Igreja?’, é um sintoma claro da consciência crítica com que os pensadores cristãos encararam, desde as origens, o problema da relação entre a fé e a filosofia, vendo-o globalmente, tanto nos seus aspectos positivos como nas suas limitações" (Fides et Ratio, n. 41).

Durante o século II um considerável número de gentios com sólida formação intelectual ingressou na Igreja. O fato de terem aderido ao Evangelho os obrigava ao confronto com a filosofia gentílica. Para defenderem a fé dos ataques dos perseguidores, e também dos detratores, muitos escreveram obras inteiras de apologética, ficando por isto conhecidos como Apologistas.

Entre os ataques ao cristianismo promovidos por intelectuais, podemos citar o discurso do retor Frontão de Cirta, preceptor de Marco Aurélio, Luciano de Samósata e Celso (com sua obra polêmica: Alethès lógos, c. de 178). Entre as acusações contra os cristãos, as mais comuns são a de ateísmo, assassinato ritual de crianças e traição ao imperador.

O grafitto do Palatino nos mostra um asno crucificado com algumas inscrições. Um certo Alexamenos, jovem cristão, é ridicularizado pelo companheiro de estudo: "Alexamenos adora o seu Deus". Em resposta escreve ao lado do insulto a frase: "Alexamenos fiel".

Diante da cultura pagã a Igreja assumiria duas posições: uma de oposição e rejeição (com Taciano, Teófilo ou Tertuliano, por exemplo), e outra de aproveitamento, assimilação dos seus aspectos positivos (Justino e outros pensadores cristãos, principalmente do mundo grego). A influência de filósofos gregos, principalmente Platão, sobre os Padres da Igreja é marcante.

Entre os apologistas, citamos Quadrato, Aristão, Milcíades, Apolinário, Melitão, Aristides de Atenas e Justino. Também merecem destaque Taciano, Atenágoras de Atenas, Teófilo de Antioquia, Hérmias e a epístola a Diogneto.

Quadrato foi discípulo dos apóstolos. Apresentou uma apologia ao imperador Adriano, em 123/124 (ou em 129?). Aristão de Pela defendeu o cristianismo contra os ataques dos judeus redigindo o Diálogo entre Jasão e Papisco sobre Cristo. Milcíades, retor originário da Ásia Menor, escreveu várias apologias contra os gregos e os judeus. Apolinário, bispo de Hierápolis, compôs quatro apologias. Melitão, bispo de Sardes, enviou uma defesa da fé cristã ao imperador Marco Aurélio.

Aristides de Atenas, um filósofo, redigiu sua Súplica em favor da religião cristã para o imperador Adriano.

De todos os apologistas aquele que merece mais destaque, com certeza, é Justino. Martirizado pelo ano 165, era filho de uma família greco-pagã de Flavia Neapolis, antiga Siquém, na Palestina. Familiarizado com muitas correntes filosóficas, não encontrou nenhuma que lhe desse todas as respostas que procurava. Sua mente e seu coração só encontraram a resposta na fé cristã.

Conservamos de suas obras duas Apologias contra os gentios e o Diálogo com o judeu Trifão.

A teoria das sementes do Verbo que ele formulou estabeleceu uma ponte entre a filosofia antiga e o cristianismo. Em seus escritos encontram-se valiosas informações sobre o batismo e a celebração litúrgica. Justino chega a esboçar uma formulação do dogma da transubstanciação. "De fato, não tomamos essas coisas como pão comum ou bebida ordinária, mas da maneira como Jesus Cristo, nosso Salvador, feito carne por força do Verbo de Deus, teve carne e sangue por nossa salvação, assim nos ensinou que, por virtude da oração ao Verbo que procede de Deus, o alimento sobre o qual foi dita a ação de graças - alimento com o qual, por transformação, se nutrem nosso sangue e nossa carne - é a carne e o sangue daquele mesmo Jesus encarnado". Também é relevante o paralelo que ele faz entre Maria e Eva, semelhante ao paralelo paulino entre Cristo e Adão.

Taciano foi discípulo de Justino. Depois do martírio do seu mestre, deixou Roma e voltou para o Oriente, sua região de origem. Acabou aderindo à seita dos encratitas, pregando a abstinência do matrimônio, do vinho e da carne. Seguindo Epifânio, substituiu o vinho pela água na eucaristia. Escreveu várias apologias.

Atenágoras de Atenas supera Justino em sua linguagem, estilo e ritmo. É mais tolerante do que Taciano no que se refere à filosofia e cultura gregas. Fez uma "Súplica em favor dos cristãos", dirigida, cerca de 177, a Marco Aurélio e Cômodo. Testemunha a fé da Igreja na Trindade antes do concílio de Nicéia: os cristãos adoram o Pai, o Filho e o Espírito Santo e veneram os anjos.

Teófilo de Antioquia, bispo desta cidade, escreveu três livros A Autólico, depois de 180. É o primeiro a empregar o termo triás para falar de Deus.

A carta a Diogneto foi redigida na segunda metade do século II, de acordo com a maioria dos estudiosos. Um certo Diogneto teria feito a um cristão três perguntas: 1) Qual a religião dos cristãos e por que eles rejeitam o judaísmo e o paganismo? 2) O que é a caridade para com o próximo? 3) Por que a religião cristã apareceu tão tarde na história do mundo?



O Pai celeste está sempre disposto a contentá-lo em tudo o que for para o seu bem”. São Padre Pio de Pietrelcina